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Quando uma palavra decide
chamar atenção é que nem serviço pela metade: exerce pressão.
Recentemente duas pegaram
no meu pé: vintage e cunilíngua. Nunca as li ou ouvi mais gordas. A
primeira tem me perseguido em textos sobre arte e tendências e a
segunda, ouvi num episódio de série cômica com Larry David e agora
a danada me aparece figurando no conto Pudico do Rubem
Fonseca.
A bem da verdade, é bom
que se diga, tenho passado muito bem sem elas. O problema é que
quando conheço uma palavra nova sofro um tempo até perceber que é
realmente nova pra mim e depois, outro tanto, para descobrir o que a
tal tem a dizer.
Enquanto isso, atazanam
meu sossego. As atrevidas aparecem sem serem convidadas. À sorrelfa.
E pior, alojam-se no lóbulo da orelha e ficam lá, penduradas,
miando como se fossem gatos em teto de zinco quente, doidos pra levar
uma chinelada.
No começo, tento
ignorar. Finjo que não é comigo. Mas existe um perigo: ficar
sabendo algo que não sabia, faz da gente cúmplice de alguma coisa.
E eu não gosto de ser envolvido em confusão. Principalmente com
palavras. Palavras podem ter o peso de montanhas ou a leveza de uma
pluma. Depende apenas das circunstâncias em que foram geradas e
lançadas ao mundo.
Com o tempo, mais calmo,
passo a observar-lhe o contexto para ver se consigo intuir algum
significado. Derradeiro, quando já não aguento mais a aporrinhação,
abro o dicionário e confiro o que ela quer que eu saiba.
É aí que o bicho
pega. Porque em geral, me frustro. Enquanto a gente não sabe, elas
dão a impressão de serem coisa de muita importância, carregarem
significados do outro mundo, mistérios ocultos, revelações
bombásticas.
Talvez por isso, demore
tanto a desnudá-las. No fundo, no fundo gosto dessas preliminares,
de ser perseguido pela incerteza.
E isso me faz lembrar de
outro gato, nesse caso o do Schrödinger.
O tal que está preso numa
caixa. Enquanto não
é aberta
não dá para saber se o
felino está vivo ou morto. Depois que a gente abre, das duas uma: ou
o gato está mortinho da silva ou
ele pula com unhas e
dentes na nossa cara, puto da vida por ter sido mantido
em cativeiro apenas para que um físico demonstrasse
sua teoria.
Dessa
forma, para nós humanos o
resultado de uma hipótese
é sempre uma incógnita. Até
o momento que a gente vai lá e confere se o “gato
está vivo ou morto”.
Mas
o que isso tudo tem a ver com aquelas duas palavras, vocês
devem estar se coçando de curiosidade. Bem,
a primeira quer
nos dá a dimensão do que
seja antigo. Diz que tudo
que tem entre vinte e cem anos, é vintage. Após os cem é
antiguidade.
Quanto
a segunda, trata-se da
boa e velha prática
de estimular os órgãos sexuais femininos com a boca ou com a
língua.
O que me leva a pensar
que a gente precisa prestar mais atenção às palavras. Afinal, andam a
surgir algumas que nada dizem, nada acrescentam e outras que,
infelizmente, desapareceram por absoluta falta de uso.
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