Fredric March, in Dr.Jekyll and Mr.Hyde, 1931
O apresentador introduz a notícia.
A música sobe o tom e os pontos do
Peoplemeter.
Vende bem sua diatribe, o apresentador.
Para alegria e conforto dos
anunciantes, dos publicitários, dos acionistas, dos…
Por alguns minutos, o apresentador é
minha alma e eu a sua sombra
Neste breve tempo, pouco nos lixamos
para os fatos,
Pouco nos lixamos para a vida.
Quem haveria de se importar com
qualquer cuidado, qualquer desvelo
Diante desse exuberante e apaixonado
cinismo?
Ah, o espetáculo e a notícia e o
mundo cão.
O apresentador já é parte da família,
o meu galã
Trago-o na sala, acima dos olhos,
solene,
O meu astro de cinema, o meu ponto de
fuga
Gozo quando seu martelo tilinta afeto,
Cascavela simpatia, estima e
honestidade,
Benevolência que desconheço e
desconfio
Exista assim de modo tão fácil e
banal.
Mas tudo bem, não somos feitos de
perguntas, o apresentador e eu.
E pra que perguntas, se temos, eu e
ele, todas as respostas.
– Quem arriscaria supor que haja
qualquer intenção
Que não a de que “apenas o amor
constrói”
E contra caspas apenas o inofensivo
xampu de babosa vai bem, obrigado?
Ah, o espetáculo e a notícia e a roda
vida e a liberdade de expressão.
O enigma que nos tornamos – o
apresentador eu,
Revela uma única e solitária questão:
sou mesmo muito feio
E parece irreversível minha indecorosa
e natural perversidade.
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