Dead End, Jacek Yerka, 1980
Não foi Madalena perdoada? A partir daquele instante deixou de
entregar seu corpo ao mundo. Passou a acompanhar o mestre, tornou-se
pura. Figura, hoje, ao lado dos bons, justos e virtuosos. Madalena é
a prova inconteste de que é possível domesticar o demônio. O
segredo está em esquecer. Amputar a memória. Apenas no esquecimento
a mulher iguala-se ao homem.
(…)
A natureza feminina é má e fraca. Fraca porque é má, má porque é
fraca. Tende à ruína. Pelos sentidos. Acusaste-me de fraco, incapaz
de resistir aos teus encantos. Nunca estiveste tão certa. Em
condenar-te.
(…)
Claro que existe bondade mas ela é um atributo exclusivamente
masculino. Quem primeiro perdoou? De quem a mulher aprendeu o perdão?
(…)
Quem
arrancou de ti toda
pecha, todo estigma? Quem
limpou
tua barra, pagou
tuas dívidas, curou
tuas chagas?
Quem removeu as
cicatrizes que desfiguravam teu corpo?
(…)
Ah,
quando
te conheci…
Tão
perdida e
tão linda. Te
olhei nos
olhos, penetrei
na
tua
miséria para
te
resgatar
das
trevas, te
devolver
à luz. Tu
tão refratária. O
que
peço?
(…)
O que para a mulher é gozo para o homem é missão. Que vale mais:
teu gozo ou minha missão? Acaso devo renegar a potência, impedir a
livre expressão da minha masculinidade? Quanto egoísmo! Existem
outras, tão vítimas do pecado quanto tu, corrompidas e frágeis.
(…)
Lembro de ti, na sarjeta, pagando tributo à escória, tão suja, tão
rameira, capaz de lamber o chão por alguns trocados… E no entanto,
meu compromisso te trouxe até aqui. Eis a prova maior do meu amor.
Minha constância. Alegra-te e cala.
(…)
És o meu troféu, meu prêmio mais cobiçado. Lutei por ti, lutei
muito por ti, és meu ganho. E por tudo isto te fiz respeitável…
Teu filho tem um nome, o meu nome. E falas em rejeitar meus
desejos?
- Quando fracassa a nobreza o que resta?
Não enten…!
Nenhum comentário:
Postar um comentário