sábado, 28 de julho de 2012

A Tradição Relativa IX


Izanagi e Izanami, Kobayashi Eikatu, 1885


Izanagi e Izanami, os Criadores do Mundo


Antes do Céu e da Terra virem à existência, havia o Caos ilimitado e indefinido. Dessa massa sem fronteiras e sem forma emergiu algo leve e transparente e formou o céu. Era a Planície dos Céus Elevados, na qual se materializou a Deidade do Augusto Centro do Céu. Logo depois o Céu trouxe à luz a Elevada Augusta Deidade Produtora de Maravilhas e a Divina Deidade Produtora de Maravilhas.

O que era pesado e opaco neste vazio gradualmente precipitou-se e deu origem à Terra. Levou um tempo imenso para se condensar suficientemente e formar algo sólido. A Terra era como uma mancha de óleo flutuante na superfície da água. De repente, como que jorrando por um tubo, dois seres imortais nasceram de suas entranhas: a Deidade-Príncipe Primogênito do Agradável Jorro do Tubo e a Deidade-Celestial Eternamente Pronta.

Muitos deuses nasceram em sucessão, e assim, eles cresceram em número, mas enquanto o mundo permanecia num estado caótico, não havia nada para eles fazerem. Então as Divindades Celestiais convocaram dois seres divinos, Izanagi e Izanami, e ordenaram-lhes que descessem ao lugar nebuloso, ajudando-se mutuamente para consolidar um lugar em terra firme. Foi-lhes conferido um tesouro precioso, com o qual governariam a Terra, a criação que lhes foi ordenado fazer. Receberam cada um uma lança, cravejada com pedras preciosas.

Izanagi e Izanami receberam respeitosa e cerimoniosamente a arma sagrada e dirigiram-se à Ponte Flutuante do Céu, que ficava entre o Céu e a Terra, e permaneceram um instante a olhar o que havia abaixo. O que eles avistaram foi um mundo ainda não condensado, parecendo um mar de neblina, exalando um odor de inexplicável fragrância. Primeiro, ficaram perplexos, sem saber onde e como começar, mas logo Izanagi sugeriu à sua companheira que eles deveriam tentar revolver a bruma. E assim dizendo enfiou a sua lança e descobriu que tocara em algo. Ao retirá-la, percebeu que uma gota caída da lança imediatamente coagulou e formou uma ilha. Felizes com o resultado, as duas Divindades desceram da Ponte Flutuante para a Ilha que miraculosamente havia sido criada.

Izanagi e Izanami desejaram tornar-se marido e mulher. Erigiram no centro da ilha um pilar, o Augusto Pilar Celestial, e construíram ao seu redor um grande palácio. Depois, indo em direções opostas deram a volta no pilar. Izanagi para a esquerda, Izanimi para a direita. Quando eles se encontraram no ponto de partida Izanami, falou primeiro: “Que bom encontrar um jovem tão bonito”. E Izanagi, respondeu: “Que bom deparar-me com tão linda donzela”.

Depois disto, eles se uniram no leito conjugal. Izanami deu a seu consorte um filho, mas o bebê nascera fraco e sem ossos. Pesarosos, eles o abandonaram na água, colocando-o em um bote feito de junco. O segundo filho foi tão desapontador quanto o primeiro. As duas Deidades, agora profundamente desapontadas com o seu fracasso e cheio de pressentimentos subiram aos Céus para saberem dos Deuses Celestiais qual era a causa de seus fracassos. Os Deuses fizeram uma cerimônia e então disseram: “A culpa é da mulher. Ao dar a volta no pilar, não foi correto nem apropriado que a divindade feminina falasse primeiro que a divindade masculina. Esta é a razão”.

As duas Deidades viram a verdade e resolveram retificar o erro. Então, eles voltaram à terra e mais uma vez deram a volta no Pilar Celestial. Desta vez Izanagi falou primeiro: “Que bom encontrar tão linda donzela”. E Izanami respondeu: “Estou feliz de poder encontrar um jovem tão bonito”. Depois disto, todas as crianças nascidas deles não deixaram nada a desejar. E eles tornaram-se os pais do País das Oito Grandes Ilhas, como é conhecido o Japão.  


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