Raul Mendez, A Dama e o Tocador, 2004
Hoje não quero falar
do céu
Nem da brisa que dança
nos meus olhos
Nesta manhã de
maritacas, sabiás e bem-ti-vis.
Hoje não cantarei o
verde, não recitarei o lilás
Nada direi das carícias
dos tons deste azul
Que orvalham meus
lábios com tenras primaveras.
(Quantos arabescos,
Valquíria, estes pirilampos
Debruados de soluços
em longínquas madrugadas)
Hoje não falarei de
mágica, quanto mais de fantasia
Não sonharei a menina,
debruçada na janela
Num três por quatro de
valsa acenando uma espera.
Espraiado em luares,
hoje não beberei do vinho
Não comerei da fruta
que nasce em tuas mãos
Nem cochilarei no teu
colo de loureiros virginais.
(Quantos arabescos,
Valquíria, estes pirilampos
Debruados de soluços
em longínquas madrugadas)
Hoje não sentirei o
perfume da tua nuca alecrim
Nem sussurrarei ao teu
ouvido palavras de volúpia
Embriagado pela
simetria da tua boca de baunilha.
Hoje não me deitarei
na relva dos teus braços
Tampouco farei deste
acalanto um acorde em desatino
Para que não te
escondas pela cidade a cada embargo deste canto.
(Quantos arabescos,
Valquíria, estes pirilampos
Debruados de soluços
em longínquas madrugadas)
Hoje não voarei nem
permitirei que minhas asas aticem
Estes meus sentidos
buscadores de estrelas e confins de madrigais
Pois só desejo
auscultar a vastidão do meu querer ansioso de chegar.
Fora de mim esta
saudade, estas lembranças tão banais
Fora de mim melancolia,
que hoje só desejo estar aqui
Rosalinda, contigo,
minha pequena e fugitiva alegria.
(Quantos arabescos,
Valquíria, estes pirilampos
Debruados de soluços
em longínquas madrugadas)
Que belo poema, Paulo Laurindo. Um canto ao amor, esta pedra de toque tão caro à poesia.
ResponderExcluir