sábado, 7 de janeiro de 2012

Hoje Só Quero Estar Aqui



Raul Mendez, A Dama e o Tocador, 2004


Hoje não quero falar do céu
Nem da brisa que dança nos meus olhos
Nesta manhã de maritacas, sabiás e bem-ti-vis.

Hoje não cantarei o verde, não recitarei o lilás
Nada direi das carícias dos tons deste azul
Que orvalham meus lábios com tenras primaveras.

(Quantos arabescos, Valquíria, estes pirilampos
Debruados de soluços em longínquas madrugadas)

Hoje não falarei de mágica, quanto mais de fantasia
Não sonharei a menina, debruçada na janela
Num três por quatro de valsa acenando uma espera.

Espraiado em luares, hoje não beberei do vinho
Não comerei da fruta que nasce em tuas mãos
Nem cochilarei no teu colo de loureiros virginais.

(Quantos arabescos, Valquíria, estes pirilampos
Debruados de soluços em longínquas madrugadas)

Hoje não sentirei o perfume da tua nuca alecrim
Nem sussurrarei ao teu ouvido palavras de volúpia
Embriagado pela simetria da tua boca de baunilha.

Hoje não me deitarei na relva dos teus braços
Tampouco farei deste acalanto um acorde em desatino
Para que não te escondas pela cidade a cada embargo deste canto.

(Quantos arabescos, Valquíria, estes pirilampos
Debruados de soluços em longínquas madrugadas)

Hoje não voarei nem permitirei que minhas asas aticem
Estes meus sentidos buscadores de estrelas e confins de madrigais
Pois só desejo auscultar a vastidão do meu querer ansioso de chegar.

Fora de mim esta saudade, estas lembranças tão banais
Fora de mim melancolia, que hoje só desejo estar aqui
Rosalinda, contigo, minha pequena e fugitiva alegria.

(Quantos arabescos, Valquíria, estes pirilampos
Debruados de soluços em longínquas madrugadas)


Um comentário:

  1. Que belo poema, Paulo Laurindo. Um canto ao amor, esta pedra de toque tão caro à poesia.

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