sábado, 12 de novembro de 2011

Soltem a Magdala - Capítulo 4



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No capítulo anterior, graças aos sofisticados recursos tecnológicos disponíveis no momento, viajamos no tempo para constatarmos estupefactos certa lei inexorável: a corda sempre arrebenta do lado de quem tem a constituição mais fraca.

Devassa – Ainda ouço o silvo intrépido da ferramenta pelos ares. Tentei desviá-la mas, foi tarde demais. Carcamano tinha que empregar tanta força, tinha? Se não fosse aquela mania de exibir competência, a bicha não teria se soltado. Agora nossa delicada menina tem que conviver com esses quinze quilos de destruição fincados na omoplata esquerda.
Emengarda – Ieeeeaaarrrggghhhhrrrrr....!
Volupo – (Ao Doutor) Alguma sinal de melhora?
Doutor – Tsk, tsk. O caso é bastante comum, a literatura é rica em menções, contudo... o fenômeno é bastante complexo.
Volupo – Dá pra fazer por menos?
Doutor – O aço penetrou fundo, atingiu vasos comunicantes...
Devassa – Não me diga que ela...?
Doutor – Jamais!
Devassa – Deus, ó deus, poucos com muito e muitos com pouco!
Volupo – Há males que vem pra bem.
Emengarda – Arrggghhh...!
Devassa – Faça alguma coisa, doutor!
Doutor – Não há como retirar a excrecência. Todo os recursos físicos e metafísicos foram esgotados. Qualquer tentativa de remover-lhe a picareta poderá ser fatal.
Volupo – O que tem que ser, será!
Devassa – Por que isto não aconteceu com a filha da vizinha?
Volupo – O pior é que estamos gastando uma nota preta com este conceituado e exíguo cérebro científico e neca de pitibiribas.
Doutor – Mas veja pelo lado bom. Se não tivesse acontecido esta esdrúxula fatalidade, vocês estariam pagando impostos.
Volupo – E você o que é: humorista?
Doutor – A paciente precisa descansar.
Emengarda – Anaaarrrggghhhgggggblé....!
Volupo – O que me preocupa no momento é que o nosso segredo vazou.
Devassa – Como descobriram a Magdala?
Volupo – Agora morreu neves. Caiu na boca do povo, minha filha, já viu!
Devassa – Talvez ela devesse sofrer um lamentável acidente.
Volupo – Aí é que a vaca vai pro brejo. Vai sobrar pra quem?
Devassa – Maldita liberdade de imprensa.
Volupo – O que podemos fazer, além dos pescoções de praxe, é adiar um pouco os acontecimentos.
Devassa – Você não está pensando em...?
Volupo – Será que nos resta outra saída?
Devassa – Você a conhece bem. Se algum dia chegar ao trono, Magdala desencadeará uma onda de revanchismo sem precedentes.
Volupo – Para tudo existe uma solução. Ademais ela é sangue do nosso sangue, deve ter um bom coração. Sabe que no fundo, tudo que fizemos, fizemos por amor.
Prejudicados – (Em off) “Ó Emengarda não fique assim tão triste/ Esqueça o que aconteceu/ Do gorilão, metida a besta/ Que numa sexta, tascou-lhe a mão/ Do gorilão, da picareta/ Naquela sexta, que confusão/ O que será de ti, ô/ O que será de nós, ó/ Só tem um jeito/ Pra sair do rolo/ É agora ou nunca/ Magdala lá/ Ela é certinha, mais bonitinha/ Magdala já”.
Falcão – Más notícias. Botei escuta até em rabo de gato, tenho gente infiltrada em todo que é ralo de banheiro mas não consigo antecipar-me à avalanche de passeatas, comícios, greves e manifestações. Mal dissolvo uma reunião, já tenho duas, três pipocando aqui e acolá. A coisa tá preta e o negócio, a cada dia que passa, fica mais russo.
Volupo – Tem que haver uma luz fim do túnel.
Falcão – Admita, estamos indo pras cucuias. A cada dia cresce o número de prejudicados. O entulho precisa ser removido.
Devassa – Não seja impertinente.
Falcão – Desculpe mas, Emengarda é carta fora do baralho.
Volupo – Só há um modo de deter os prejudicados.
Falcão – Já esgotei todos os métodos.
Volupo – Soltemos a Magdala!
Devassa – Uma pitomba. Magdala não reinará.
Volupo – Faremos uma transição pacífica.
Devassa – A minha parte desta rapadura ninguém tasca eu vi primeiro.
Falcão – Ai, meus canhões!
Volupo – (Grita) Burocrácio!  

continua...


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