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No capítulo anterior, graças aos sofisticados recursos tecnológicos disponíveis no momento,
viajamos no tempo para constatarmos estupefactos certa lei inexorável:
a corda sempre arrebenta do lado de quem tem a constituição mais
fraca.
Devassa – Ainda ouço o silvo intrépido da ferramenta pelos
ares. Tentei desviá-la mas, foi tarde demais. Carcamano tinha que
empregar tanta força, tinha? Se não fosse aquela mania de exibir
competência, a bicha não teria se soltado. Agora nossa delicada
menina tem que conviver com esses quinze quilos de destruição
fincados na omoplata esquerda.
Emengarda – Ieeeeaaarrrggghhhhrrrrr....!
Volupo – (Ao Doutor) Alguma sinal de melhora?
Doutor – Tsk, tsk. O caso é bastante comum, a literatura é
rica em menções, contudo... o fenômeno é bastante complexo.
Volupo – Dá pra fazer por menos?
Doutor – O aço penetrou fundo, atingiu vasos
comunicantes...
Devassa – Não me diga que ela...?
Doutor – Jamais!
Devassa – Deus, ó deus, poucos com muito e muitos com
pouco!
Volupo – Há males que vem pra bem.
Emengarda – Arrggghhh...!
Devassa – Faça alguma coisa, doutor!
Doutor – Não há como retirar a excrecência. Todo os
recursos físicos e metafísicos foram esgotados. Qualquer tentativa
de remover-lhe a picareta poderá ser fatal.
Volupo – O que tem que ser, será!
Devassa – Por que isto não aconteceu com a filha da
vizinha?
Volupo – O pior é que estamos gastando uma nota preta com
este conceituado e exíguo cérebro científico e neca de
pitibiribas.
Doutor – Mas veja pelo lado bom. Se não tivesse acontecido
esta esdrúxula fatalidade, vocês estariam pagando impostos.
Volupo – E você o que é: humorista?
Doutor – A paciente precisa descansar.
Emengarda – Anaaarrrggghhhgggggblé....!
Volupo – O que me preocupa no momento é que o nosso segredo
vazou.
Devassa – Como descobriram a Magdala?
Volupo – Agora morreu neves. Caiu na boca do povo, minha
filha, já viu!
Devassa – Talvez ela devesse sofrer um lamentável acidente.
Volupo – Aí é que a vaca vai pro brejo. Vai sobrar pra
quem?
Devassa – Maldita liberdade de imprensa.
Volupo – O que podemos fazer, além dos pescoções de
praxe, é adiar um pouco os acontecimentos.
Devassa – Você não está pensando em...?
Volupo – Será que nos resta outra saída?
Devassa – Você a conhece bem. Se algum dia chegar ao trono,
Magdala desencadeará uma onda de revanchismo sem precedentes.
Volupo – Para tudo existe uma solução. Ademais ela é sangue do nosso sangue, deve ter um bom coração. Sabe que no fundo, tudo que
fizemos, fizemos por amor.
Prejudicados – (Em off) “Ó Emengarda não fique assim
tão triste/ Esqueça o que aconteceu/ Do gorilão, metida a besta/
Que numa sexta, tascou-lhe a mão/ Do gorilão, da picareta/ Naquela
sexta, que confusão/ O que será de ti, ô/ O que será de nós, ó/
Só tem um jeito/ Pra sair do rolo/ É agora ou nunca/ Magdala lá/
Ela é certinha, mais bonitinha/ Magdala já”.
Falcão – Más notícias. Botei escuta até em rabo de gato,
tenho gente infiltrada em todo que é ralo de banheiro mas não
consigo antecipar-me à avalanche de passeatas, comícios, greves e
manifestações. Mal dissolvo uma reunião, já tenho duas, três
pipocando aqui e acolá. A coisa tá preta e o negócio, a cada dia
que passa, fica mais russo.
Volupo – Tem que haver uma luz fim do túnel.
Falcão – Admita, estamos indo pras cucuias. A cada dia
cresce o número de prejudicados. O entulho precisa ser removido.
Devassa – Não seja impertinente.
Falcão – Desculpe mas, Emengarda é carta fora do baralho.
Volupo – Só há um modo de deter os prejudicados.
Falcão – Já esgotei todos os métodos.
Volupo – Soltemos a Magdala!
Devassa – Uma pitomba. Magdala não reinará.
Volupo – Faremos uma transição pacífica.
Devassa – A minha parte desta rapadura ninguém tasca eu vi
primeiro.
Falcão – Ai, meus canhões!
Volupo – (Grita) Burocrácio!
continua...
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