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As Belas Palavras
Quando a cabeleira flamejante de Ñamandu
Dançava nas coroas que ornavam as cabeças dos Jeguakavas
Os caraíbas chegaram para aumentar o mal no mundo
Karai, que andava pela terra à procura de ywy mara eÿ
Recusou o sinal de repartir o rosto e disse:
- Guardem seu deus, temos os nossos!
Mburuvicha não gostou, falou dos presentes
Do pau de fogo e da faca, do quanto era grande a terra pra cultivar
E dos muitos inimigos que os Ava tinham que vencer
- Ywy mara eÿ é sonho, difícil de encontrar.
Karai tomou o assento da palavra e disse que era hora de ñe'ë porä
- É preciso ganhar a pátria das coisas não-mortais, disse Karai
Que se ywy mara eÿ não existia, que Ñamandu falasse
Que todos os deuses falassem, que era a hora da completeza acabada
Os Jeguakavas abriram seus corações e aguardaram a embriaguez.
Cessou todo o ruído da floresta, cessou o alarido das crianças
Sabiam que sem ñe'ë porä nenhum adornado iria sobreviver.
E o que Karai falou esplendorou nos corações heroicos dos Ava
Dignas dos deuses, as palavras adornaram-lhes ainda mais a alma
Ñe'e porä dentro deles, semente em cada um, ywy mara eÿ inatingível
Pela violência e pela brutalidade da Terra Má, agora domínio dos caraíbas
- Porque nós, belos adornados, somos expostos a uma existência achy,
Perguntou Karai, porque somos reduzidos a viver a vida de animais doentes?
Nós desejamos ywy mara eÿ mas nossa condição é ywy mba'e megua
Como podemos reconquistar nossa pátria perdida, nossa pátria múltipla?
Karai, um arandu porä, um ñe'ë jara, permitiu que o pensamento se libertasse
E a sua potência desdobrou desdobrando-se ao ponto de tomar conta de Karai
E não era mais ele quem falava, mas um longínquo eco de numerosas vozes
A murmurarem a dança flamejante da cabeleira de Ñamandu na noite originária
E os Jeguakavas, fios de sua cabeça, disseram, cada um com voz própria,
Karai tem razão, ywy mara eÿ vai nascer de belas palavras, de ñe'ë porä.
- Que fiquem guardadas no recôndito da floresta para serem pronunciadas
Pelos poucos numerosos que se erguem na sua totalidade de adornados.
Para que nossa carne de natureza imperfeita se sacuda
E jogue fora, para longe de si, sua imperfeição.
E quanto a você, Karai Ru Ete, você, nós-vós,
Todos os dias hás de pronunciar as abundantes palavras,
As belas palavras que nenhuma pequenez altera.
Muito lindo e para mim um conhecimento novo.
ResponderExcluirO que tens nessa caixa para mostrar , hem! Meu rei?Fico imaginando se eu tivesse um minuto por mês contigo...Seria realmente a pessoa que sonho ser.
Íris Pereira
Paulo Laurindo, seu texto nada deve ao do grande Câmara Cascudo, em sua Antologia de lendas dos índios brasileiros, cujas histórias eu lia para meus filhos quando pequenos.
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