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A Contenda dos Dois Touros
Após um ano de casado, Ailill de Leimster perguntou à esposa: “Mulher, é verdade o que diz o provérbio: a mulher de um bom homem é boa?” Ela respondeu: “Sim, mas que importância tem isto?” Ele retrucou: “Porque você é uma mulher melhor hoje do que quando a desposei”. Ela disse: “Eu era boa mesmo antes de ter-lhe visto”.
“Curioso então”, comentou ele, “que jamais tenhamos ouvido qualquer coisa do tipo, mas apenas que você depositava confiança em seus ardis femininos, enquanto os inimigos nas fronteiras do teu reino pilhavam livremente seu butim e sua presa”.
“Eu não era como você pensa”, disse ela, “mas morava com meu pai Eochaid, que teve seis filhas. A mais nobre e adorada de nós todas era eu. Pois com respeito à generosidade, eu era a melhor; e com respeito à batalha, luta e combate, também eu era a melhor. Eu tinha diante de mim e à minha volta duas vezes mil e quinhentos mercenários reais, todos filhos de capitães. Com dez homens para cada um e, para cada um desses oito homens; para cada um desses, sete; para cada um desses, seis; para cada um desses seis, cinco; para cada um desses cinco, quatro; para um desses quatro, três; para cada um desses três, dois; e para cada um desses dois, um. Esses todos estavam ao meu serviço; eis porque meu pai deu-me uma de suas províncias da Irlanda. Ou seja, esta de Cruachan, onde estamos agora. Por isto sou conhecida pelo título de Meave de Cruachan”.
“Em seguida”, disse ao marido, “veio uma representação do rei de Leimster, Finn Mac Rosa Rua, pedir por mim. Outra de Cairpre Niafer Mac Rosa, rei de Tara. Uma do rei de Ulidia, Conachar Mac Fachtna. E ainda outra de Eochu Beg. Mas eu os rejeitei. Pois eu era a que requeria um dote raro, como nenhuma mulher jamais havia exigido de nenhum homem de Erin: que meu marido fosse um homem sem um mínimo de mesquinharia, sem ciúmes e sem medo. Se o meu marido fosse mesquinho, não daria certo, pois eu o sobrepujaria em liberalidade. Se fosse temeroso, também não daria certo, pois eu sozinha seria vitoriosa nas batalhas, disputas e rixas. Se fosse ciumento, tampouco daria certo, pois jamais fiquei sem um homem à sombra de outro. E eu consegui, na verdade, exatamente um marido assim: você, Ailill Mac Rosa Rua de Leinster. Pois você não é mesquinho, nem ciumento e nem covarde. Além dos mais, eu lhe dei presentes de casamento de grande valor, tal como convém a uma mulher; tecido para o vestuário de doze homens; um carro de combate no valor de três vezes sete jovens escravas; a largura do seu rosto em ouro vermelho, e bronze branco do peso do seu antebraço esquerdo. De maneira que se alguém o depreciasse, mutilasse ou enganasse, não haveria garantia ou compensação por sua honra aviltada, a não ser o que é meu; pois você vive nas barras da saia de uma mulher”.
“Sinto-me ofendido”, disse Ailill e apelou para uma contagem comparativa das propriedade. E diante da vista dos dois desfilaram primeiramente suas canecas e cântaros, recipientes de ferro, vasos, tinas e barris de cervejeiros; anéis e braceletes, vários broches ornamentais, anéis para o polegar e vestuários de cor carmesim, azul, negro e verde, amarelo, xadrez, multicolor e listrado. Em seguida, seus numerosos rebanhos de ovelhas foram trazidos das pastagens, pradarias e campos abertos, descobrindo-se serem iguais em número; fez-se o mesmo com os cavalos e também com as varas de porcos. Entretanto, quando os animais desfilavam, foi percebido que, apesar de serem iguais em número, havia entre os do rei um certo touro chamado O-de-Chifres-Brancos, que tinha sido um bezerro entre as vacas de Meave mas que, não desejando ser governado por uma mulher, tinha fugido e tomado seu lugar entre o rebanho do rei. Seu equivalente em tamanho e majestade não havia entre os principais touros do rebanho dela. Quando ficou evidente a desigualdade, a rainha sentiu como se todo o seu rebanho não tivesse valor algum.
A rainha Meave perguntou a seu arauto, Mac Roth, se havia em qualquer província da Irlanda um touro de valor equivalente ao de O-de-Chifres-Brancos. “Conheço um duas vezes melhor e mais excelente”, respondeu, “do rebanho de Daire Mac Fachtna, em Cooley, que é conhecido como O-Marrom-de-Cooley”.
“Vá”, ordenou então Meave, “e peça a Daire que me empreste o touro por um ano. No final desse ano o pagamento pelo empréstimo será feito com o próprio touro e mais cinquenta novilhas. Se alguém naquela região pensar mal por ele emprestar aquela coisa extraordinária, bem, então que Daire venha com seu touro e eu lhe concederei uma propriedade do tamanho igual ao de sua terra, além de uma carruagem com o valor de três vezes sete jovens escravas. E ele terá, além do mais, a amizade de minhas próprias coxas”.
depois eu é que sei contar conto...Fiquei fascinada com tudo.
ResponderExcluirOlhe voltei, estive 15 dias em Floripa. Voltei com um monte de novidades. Hoje completo 60 anos.
saltei asa delta, andei na praia de nudismo e lógico nua. Foi um sonho. depois terei muitos "Contos"
Um grande abraço saudoso.
Íris Pereira
Você passeia pela mitologia com muita segurança. Belo texto!
ResponderExcluirObrigada meu rei pela honra da visita.
ResponderExcluirEu voarei até os céus, nasci para voar, só me cortaram as asas muito cedo, mas voarei com asas e métodos adquiridos.
Um forte abraço