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Era um professor duro, exigente e implacável. As provas eram feitas sem aviso prévio. Todos os trabalhos valiam nota e eram corrigidos segundo os critérios mais rigorosos. Resultado: no fim do ano quase todos os alunos estavam à beira da reprovação.
As notas que ele anotava cuidadosamente no livro de chamada era as mais baixas possíveis. O que fazer? Reuniam-se todos os dias no bar em frente ao colégio, para discutir a situação, mas nada lhes ocorria. Até que um deles teve uma ideia brilhante. O livro de chamada. A solução estava ali:tinham de se apossar do livro de chamada e mudar as notas. Um 0 poderia se transformar em 8. Um 1 poderia virar 7 (ou 10, dependendo do grau de ambição).
O problema era pegar o livro, que o professor não largava nunca, nem mesmo para ir ao banheiro. Recorreram, pois, a catástrofe. Um dos alunos telefonou do orelhão em frente ao colégio, avisando que havia um principio de incêndio na casa do professor. Avisado, o pobre homem saiu correndo da sala de aula, deixando sobre a mesa o famigerado livro de presenças.
Acreditareis se eu disser que ninguém tocou no livro? Ninguém tocou no livro. Os rapazes se olhavam, mas nenhum deles tomou a iniciativa de mudar as notas.
Às vezes a consciência pesa mais que a ameaça da reprovação.
Moacyr Scliar (1937-2011)
PS: Meu muito obrigado, doutor, pela Introdução à Prática Amorosa!
A literatura brasileira ficou mais pobre hoje com a morte de Moacyr Scliar.
ResponderExcluirNão posso deixar de comentar isto: Como é fiel seu seguidor Saint-Clair Melo. Que eu tivesse só um desse e me sentiria a escritora mais feliz da terra.
ResponderExcluirMeu rei estou saudosa, andas a visitar outros haréns além dos teus?
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Um xero.
Íris pereira