Idílio, Tarcila do Amaral, 1929
Para fazer poesia, confesso
Devo estar bagunçado
Un animal dans la tête...
Pressões batendo à porta,
Beira do caos, desespero, asilo...
E os braços nus dessa pagã, minha outra.
Minha vida é habitual demais
Para ser lírica.
Minha vida é ordinária demais
Para ser poética.
Turista eterno nesse porto,
Penso a poesia
Qual uma casinha pequenina
Na colina em que me escondo.
A minha poesia, este castelo de cartas,
Não resiste ao peso da matéria
Insustentável, impermanente, instável
Contingente é a minha poesia.
Não tem dia, não tem hora,
Não tem lugar a minha poesia.
Erma, despovoada, silenciosa e só
Vive a minha poesia.
Por isso a visito vez em quando
Em momentos de maior necessidade:
Instantes de pobreza extrema,
De carência, nulidade
Principalmente de impotência
Diante da insídia e iniquidade.
E sendo breve esse hálito terno, calmo
Repudio o que deve ser repudiado
E afirmo o que deve ser afirmado.
E logo adeus... um beijo tênue
Me despede sóbrio...
Retorno ao mundo, o mesmo
Desacostumado de tudo.
E eu aplaudo por dizer o que,às vezes, sentimos e não conseguimos expressar com tanta argúcia e beleza. Lindo!!!
ResponderExcluirEmoção e sensibilidade unidas para fazer poesia de alta expressão.
ResponderExcluirTexto belíssimo!
Finalmente nos entendemos quanto ao que digo voar.
ResponderExcluirQue coisa magnífica meu rei, é tudo isto, é ser a própria incompreensão, é fazer o que não está projetado, é fazer é ser tudo e nada, é ser grande e pequeno, é estar e não ser notado...
Adorei.
Tu mudastes ou eu que estou mudando?
Beijos meu rei.
Íris Pereira
Teu blog está lindo, notei que destes uma mudada, obrigada por colocar meu link, é exatamente disto que precisamos, sermos conhecidos, pelo menos eu que nada sou, ( ainda ), pois você ainda me chamará de rainha.
ResponderExcluirÍris Pereira