Foto: Fernando Stankuns (Marina Flores e Hélio Cícero)
Uma moça tenta entender porque seu pai foi embora. Um homem, no meio da floresta, tenta concretizar um sonho de grandeza. A moça, examina os motivos que levaram o pai a desistir da família e abraçar uma quimera - insanidade, covardia, perda de identidade, purgação de pecados?
Amazônia, anos 70: a Transamazonica (episódio da nossa história recente ainda por ser decifrado) é o sonho de integração do país concebida pelos militares. Um sonho de grandeza para satisfazer vaidades. Interesses escusos destinaram a obra ao fracasso. Porque alguém continuaria acreditando na sua validade, sacrificando todo o seu passado?
Este é o enredo de As Folhas de Cedro (encenado pela Companhia Arnesto Nos Convidou, no Sesc Vila Mariana, São Paulo, até o dia 22 de agosto), espetáculo do premiado dramaturgo Samir Yazbek, que traz aos palcos sua origem libanesa de modo a sondar o passado na procura de respostas para o sentido da vida: quem somos, de onde viemos, o que fazemos aqui e para onde vamos.
Nesta jornada de autoconhecimento, Samir nos coloca na fronteira dos tempos - passado e futuro, memória e imaginação, onde adentramos o terreno dos arquetipos para encararmos nossas próprias escolhas, levando em conta as parcialidades cotidianas mas, tendo por princípio que, sejam quais forem as consequências, somos sempre donos e senhores do nosso próprio destino.
Entender o herói que nos habita é fortalecer a alma para a grande aventura da vida, teria dito Joseph Campbell.
Somos uma nação de migrantes e imigrantes. Uns mais cantados que outros. Uns mais à vista que outros. Da contribuição árabe à civilização brasileira sabemos muito pouco. Obras de folego, nos brindaram Milton Hatoum, amazonense de Manaus, com o seu Dois Irmãos, e Radan Nassar, paulista de Pindorama, com a sua Lavoura Arcaica.
A nós, tão acostumados em estereótipos (todo árabe é turco, todo turco mascate, todo português padeiro, todo italiano massa, todo baiano facada, todo caipira viola, todo preto macumba, todo roqueiro drogado, todo samba batucada) ao assistirmos a peça, somos surpreendidos por um libanes em conflito com a tradição e que insiste em ser apenas humano, firmemente decidido a trilhar os dificeis caminhos da autoconstituição, transformando este ato de liberdade num legado.
A despeito da participação, como atrizes na peça, da minha filha, minha neta e de uma colega de turna nos meus dois anos de curso na EAD (a quem não via a mais de 30 anos), não permitam que este breve comentário invalidem a importância da peça, antes pelo contrário, considerem o fato de que um reencontro pode nos ajudar a perceber que somos todos parte de uma única e mesma jornada e que mágoas são perguntas que ainda não encontraram respostas.
obrigado pela visita e afiliação, Deo. Esse enredo é muito interessante, mas, como pesquisadora que sou, não terei tempo para ir... vamos ver, algum dia.... ainda tenho esperanças. beijos sds.
ResponderExcluirTirante o pai e avô babão, gostaria de ver a peça, afinal sou descendente de libaneses, além do que, uma indicação do amigo é sempre bem vinda. Com corujice-babatória e tudo.
ResponderExcluirO primeiro parágrafo me fez lembrar do conto de Guimarães Rosa, A terceira margem do rio.
ResponderExcluirLindo texto. Olhar sensível. Independente da corujice acima mencionada, as palavras dão a medida do espetáculo. Que em cada poltrona da plateia chega de uma forma, conversa com memórias e imaginações, contruindo outro enredo. Todos na mesma meada.
ResponderExcluirParece-me mesmo um espetáculo incrível; só a tua indicação, Paulo, já é garantia de que vale a pena assistir.
ResponderExcluirVerdade, rapaz; a Transamazonica é um bom enredo de histórias e fantasias - não sei se felizmente ou infelizmente...
Um abraço a você, Paulo.